Semana 4: Jesus como profeta


Richard Rohr compreende Jesus em uma longa linhagem de profetas judeus que revelaram verdades inconvenientes ao seu povo. Jesus expõe a sombra, confronta o ego e chama o povo para ser transformado.
A sombra é aquela parte do eu que não queremos ver, não queremos que os outros vejam e da qual sempre temos medo. Nossa tendência é tentar escondê-lo ou negá-lo, mesmo — e principalmente — de nós mesmos. Jesus, citando o profeta Isaías, descreve isso como “ouvir, mas não entender; ver, mas não perceber” (Mateus 13:14–15).

A religião arcaica e a maior parte da história da religião têm visto a sombra como o problema. Essa religião trata de se livrar da sombra. Este é o exemplo clássico de lidar com o sintoma em vez da causa. Não podemos realmente nos livrar da sombra. Podemos apenas expor seu jogo – o que, em grande parte, vai nos livrar de seus efeitos.

Jesus e os profetas tratam da causa, que é o ego. Nosso problema não é tanto nosso eu sombrio quanto nosso ego super-defendido, que sempre vê e odeia suas próprias falhas nas outras pessoas e, assim, evita sua própria conversão.

A frase de Jesus para a sombra negada é “a trave que está no seu próprio olho”, que você invariavelmente vê como o “argueiro no olho do seu próximo” (Mateus 7:3–5). O conselho de Jesus é absolutamente perfeito: “Tira a trave do teu olho e verás bem para tirar o cisco do olho do teu próximo”. Ele não nega que devemos lidar com o mal, mas é melhor fazermos primeiro nossa própria limpeza interna – da maneira mais radical, que ele mais tarde descreverá até mesmo hiperbolicamente como arrancar nosso olho (Mateus 18:9). Se não vemos nossa própria “tábua”, é inevitável que a odiemos em outro lugar.

A genialidade de Jesus é que ele não perde tempo em reprimir ou negar a sombra. Nisso, ele é um profeta clássico, daqueles que não apenas expõem a sombra negada de Israel, mas atacam o problema real, que é o ego e a arrogância de Israel e das pessoas que abusam do poder. Uma vez que expomos a sombra pelo que ela é, seu jogo acabou. Sua eficácia depende inteiramente do disfarce (veja 2 Coríntios 11:14) e de não vermos a trave que está em nosso próprio olho. Uma vez que vemos nossa própria tábua, o “argueiro” no
olho do vizinho torna-se irrelevante.

Jesus não está muito interessado em pureza moral porque sabe que qualquer preocupação focada em reprimir a sombra não nos leva à transformação pessoal, à empatia, compaixão ou paciência, mas invariavelmente levará à negação ou disfarce, repressão ou hipocrisia. Isso não é bastante evidente? A religião imatura cria um alto grau de pessoas cognitivamente rígidas ou pessoas muito raivosas e agressivas – e muitas vezes ambos. Isso é praticamente a imagem pública do cristianismo hoje, mas o objetivo de Deus é exatamente o oposto.


Adaptado de Richard Rohr, Things Hidden: Scripture as Spirituality (Cincinnati, OH: Franciscan Media, 2008,
2022), 78, 79–80. Imagem: Um caminho de uma semana para a outra—Benjamin Yazza, sem título 8, 13 e 7.
Usado com permissão. Jesus usou o mistério e a variedade do mundo natural para nos ensinar.

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