José Eduardo Agualusa, jornal O Globo, 08.03.2025
Mark Zuckerberg manifestou o desejo de ver a “energia masculina” regressar às empresas. O diretor executivo da Meta defendeu que o mundo empresarial deveria voltar a acolher a “energia masculina”, valorizando características como a agressividade. É o pálido Mark (habitualmente comedido) tentando ser Elon Musk, nesta nova era Trump.
“Energia masculina” é o novo eufemismo para brutalidade, boçalidade, machismo e simples grosseria. No passado dia 28 de fevereiro, assistimos todos, e quase todos incrédulos e apavorados, a um exercício desta triunfante “energia masculina”. Refiro-me ao deprimente espetáculo que Donald Trump e JD Vance protagonizaram, enquanto tentavam espezinhar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky — seu convidado.
Elon Musk é hoje uma das figuras centrais deste novo movimento boçalista. O oligarca sul-africano-americano nunca escondeu as suas posições, que vão do machismo primário à ideia, abertamente eugenista, de que as “pessoas mais inteligentes” deveriam ter mais filhos. Ele mesmo vem fazendo filhos uns atrás dos outros e depois atormenta-os atribuindo-lhes nomes que seriam mais adequados a automóveis, robôs, computadores ou sabonetes, como Seldon Lycurgus, Techno Mechanicus, Saxon, Exa Dark Sideral, Arcadia ou X Ae A-XII. Provavelmente, é incapaz de distinguir um filho de um sabonete.
Alguns dos nomes dos filhos de Musk dizem muito sobre o projeto ideológico do pai. É o caso do nome do seu 14º rebento, Seldon Lycurgus, nascido em fevereiro deste ano. Suponho que Seldon seja uma referência a Hari Seldon, o personagem central da saga “Fundação”, de Isaac Asimov. Hari Seldon funda uma nova ciência, a psico-história, que lhe permite predizer o futuro em termos de probabilidades.
Quanto a Lycurgus só pode ser uma homenagem a Licurgo, suposto autor do conjunto de leis que regeriam Esparta — o exemplo máximo de um Estado militar totalitário, entupido até a garganta de “energia masculina”.
Musk vê-se a si próprio como uma mistura entre um profeta tecnológico e o fundador de uma nova Esparta — com os seus esparciatas, os seus periecos e os seus hilotas. É dele esta frase extraordinária, pelo que revela da escuridão espiritual do seu autor: “A fraqueza fundamental da civilização ocidental é a empatia.”
A melhor resposta a esta ideologia perversa passa pelo regresso aos valores primordiais que nos acostumamos a associar à cultura feminina: aquela que constrói pontes em vez de muros, que promove o diálogo amável em vez da bruta gritaria e humilhação; a que acolhe a diferença e aprende com ela, em vez de a esmagar. Aquela que nos ensina a escutar os outros e a rir de nós próprios. A que valoriza a gentileza, a sutileza, a inteligência, a ironia e, sim, a empatia.
Ao contrário da agressividade, enquanto mecanismo de liderança, a cultura feminina aposta na compaixão e na colaboração como pilares do sucesso coletivo.
Acredito que, no fim, será a mulher a salvar a Humanidade. O que restar da Humanidade. Haja esperança!
