“Ambos os discursos, o ansioso e o sedutor, têm o mesmo convite: seja alguém a partir do que possui. Mas o Evangelho, com sua força mansa, segue na contramão dessa lógica” ( Silvania Silva).

Aproveito e comento o incômodo, desde sempre, dos anúncios barulhentos, com músicas e falas rápidas, ansiogênicas, convocando resposta imediata de compra – senão você perderá para alguém mais esperto – pois o estoque é limitado e a oferta é por pouco tempo!!  (Haverá algo ilimitado neste mundo?)

Quanta ansiedade é suscitada nas pessoas! 

Assim se transmite ideia de status a ser alcançado e os incautos fazem compras por impulso e se endividam em 12 meses.

Outro tipo de anúncio, light, clean, imagens ambientadas em lindas paisagens ou espaços de luxo, falas sussurradas, um tanto eróticas, veiculam glamour, ideia de bem-estar, privilégios dos felizes “bem-sucedidos”.

Assim se vendem carrões de 300, 500, 800 mil e até mais, e joias, perfumes e residências-palácios de 800, 1200m2 para os dependentes de status e poder e lavadores de dinheiro.

Em meio a esses contrastes sociais e visão de mundo hedonista materialista, somos chamados pelo evangelho à simplicidade e generosidade e à partilha dos bens espirituais e materiais.

Tenhamos um Natal Made in Manjedoura não Made in Shopping.

Ressonância da psicóloga Silvana Silva, de Guarulhos, SP

Tenho pensado tanto nisso e refletido na minha própria vida. O que realmente tenho buscado como pessoa?

Vivemos num tempo em que o excesso de estímulos se tornou regra e a tranquilidade, exceção. Os anúncios gritam, não apenas com sons, mas com urgências: compre agora, não perca, seja mais, tenha mais. Criam um cenário mental de escassez e competição, como se a vida fosse uma corrida onde só vence quem acumula.

De outro lado, anúncios silenciosos, sofisticados, envoltos em paisagens perfeitas, prometem um bem-estar que se compra, um glamour que, no fundo, está mais ligado ao pertencimento social e à validação externa do que à verdadeira paz interior.

Ambos os discursos, o ansioso e o sedutor, têm o mesmo convite: seja alguém a partir do que possui.

Mas o Evangelho, com sua força mansa, segue na contramão dessa lógica.

Chama-nos não à pressa, mas ao encontro;

não ao excesso, mas ao essencial;

não ao status, mas ao cuidado mútuo.

A manjedoura nos recorda que a dignidade não nasce do ouro, mas da presença;

que a abundância não está no estoque, mas na partilha;

que o verdadeiro tesouro não se exibe, se vive.

Natal não é vitrine.

Natal é chão simples, respiração profunda, olhar que reconhece o outro como irmão.

É Deus escolhendo o silêncio dos pobres de espírito, não o palco dos poderosos.

Que, neste tempo, deixemos o coração aprender com o Menino:

o valor de ser, e não o peso de parecer.

A leveza do essencial, e não o cansaço do consumo.

Que tenhamos, como você escreveu com beleza,

um Natal feito de Manjedoura, não de Shopping.

Um Natal que devolva às coisas o seu lugar…

e ao humano, o seu valor.

Silvânia Silva, psicóloga, Guarulhos, SP – silvania.psicologa@hotmail.

Deixe um comentário